sexta-feira

A pandemia de Covid-19 afeta e ainda afetará diversas áreas da configuração social. Uma delas é o meio ambiente: por causa da retração da economia, o site britânico CarbonBrief estimou que emissões globais de gases que provocam o aquecimento global devem diminuir cerca de 6% neste ano. No entanto, na contramão, o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima (SEEG/OC) do Brasil elaborou uma nota técnica divulgada nesta quinta-feira, 21, que projeta alta de até 20% em relação aos últimos dados registrados em 2018 no país.
No mundo, a expectativa de redução vem da diminuição da atividade industrial e do consumo de combustíveis fósseis. A discrepância acontece, pois, diferente dos outros países, no Brasil o uso da terra responde por cerca de 44% das emissões e, a despeito da pandemia, o setor permanece em expansão pelo crescimento do desmatamento na Amazônia.
O SEEG apontou que, com as reduções nos setores vinculados a energia, indústria e resíduos compensando ou neutralizando o aumento nas emissões da pecuária, o agregado pode diminuir, mas o dematamento vai intervir na queda.
Entre os meses de março e abril, quando a pandemia começou a afetar o funcionamento econômico do Brasil, o projeto Desmatamento em Tempo Real (Deter) identificou a soma de 732 km² desmatados na Amazônia,o  crescimento foi de 46,6% em relação ao mesmo período de 2019. Já entre janeiro e abril o número chegou a 1202km² de perda florestal. No período de agosto 2019 e abril de 2020, o crescimento atingiu a marca de 94% em relação ao mesmo período do ano anterior, respectivamente foram 5.666 km² e 2.914 km² desmatados.
“A aceleração do desmatamento e das emissões decorre diretamente das ações do governo Bolsonaro de desmontar os planos de controle, por um lado, e estimular o crime ambiental, por outro. O Brasil se tornou uma ameaça ao Acordo de Paris, num momento em precisamos mais do que nunca avançar na estabilização do clima, para evitar uma outra grave crise de proporções mundiais”, declarou o secretário-executivo do Observatório do lima, Marcio Astrini, em nota à imprensa.

Metodologia

Para poder calcular as emissões por desmatamento no Brasil, os pesquisadores do Deter estimaram a área desmatada dos últimos meses do período de referência atual (maio, junho e junho). 
Foram considerados dois cenários: o primeiro de projeção média, em que foi considerado que o desmatamento de maio, junho e julho de 2020 vai corresponder ao cálculo do mesmo período entre 2016 e 2019; e o segundo de projeção business-as-usual (BAU), assumindo que as estimativas de desmatamento para esses meses serão as mesmas observadas no ano de 2019.
A estimativa mais otimista aponta que, nos três próximos meses, se a Amazônia mantiver a perda florestal média, o Brasil terá um aumento de emissão de gases estimado de 226 Mt CO²e nas emissões brutas para o setor de mudanças de uso da terra em 2020, o que representa um aumento de 29% em relação a 2018.
No entanto, se a área desmatada nos próximos meses for a mesma que a observada nos mesmos meses em 2019, o Brasil terá um aumento nas emissões brutas por desmatamento estimado de 396 Mt CO2e, o que corresponde a 51% com relação a 2018. 

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