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De acordo com o estudo “Milk and Health” (Leite e Saúde, na tradução livre), publicado pelo ‘New England Journal of Medicine’, aumentar o consumo de leite resulta diretamente no aumento do risco de fratura, câncer, doenças cardiovasculares, diabetes e mortalidade em geral. A publicação afirma que o consumo de leite e derivados lácteos bovinos representa elevado risco para a saúde humana, principalmente no que diz respeito ao seu uso como fonte de cálcio.
Publicado no dia 12 de fevereiro de 2020, o material revela que o benefício atribuído ao leite está mais relacionado à qualidade da dieta e menos ao consumo dos produtos lácteos. Em regiões onde a qualidade da dieta e o aporte de calorias estão comprometidos, a alta densidade energética do leite pode ser particularmente favorável, mas apenas no curto prazo.
A Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) destaca a recomendação do estudo para que a necessidade diária de cálcio seja suprida por meio de fontes de cálcio de origem vegetal como os vegetais crucíferos (brócolis, couve-flor e couve), tofu, castanhas, feijões e leites vegetais fortificados com cálcio.
“Os efeitos nocivos do consumo habitual de lácteos estão amplamente demonstrados. Portanto, não recomendamos o leite e os seus derivados como fonte de cálcio. Vale ainda um alerta para a urgente necessidade de redução do consumo, em benefício da saúde humana em diversos aspectos”, esclarece a médica Camila Secches, endocrinologista membro da SVB.
Diante dos riscos evidentes, a SVB preparou nove motivos que incentivam a redução e até mesmo a eliminação deste tipo de alimento da sua dieta:
1) Saúde óssea
A redução do consumo de lácteos está associada ao menor risco de fratura de quadril.
2) Pressão Arterial
A dieta DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension), que inclui derivados de leite com teor de gordura reduzido, é eficiente em reduzir a pressão arterial. No entanto, a contribuição específica dos lácteos não é clara, uma vez que a dieta é baixa em sódio e rica em frutas e vegetais. Abordagens dietéticas semelhantes, mas com exclusão de leite e derivados, se mostram igualmente eficazes.
3) Perfil Lipídico
A substituição isocalórica do leite por alimentos fontes de gorduras vegetais insaturadas resulta em redução de LDL-colesterol, triglicerídeos e marcadores inflamatórios.
4) Peso corporal
O leite é um alimento de alta densidade energética e não tem fibras na sua constituição. É possível que sua substituição por um alimento com menor densidade energética e/ou rico em fibras tenha impacto positivo na perda de peso e promoção da saciedade.
5) Doenças Cardiovasculares
O consumo de gorduras do leite está associado a maior risco de doenças cardiovasculares do que o consumo de gorduras insaturadas (considerando uma substituição isocalórica).
6) Diabetes
O risco de Diabetes é maior quando o leite é comparado com bebidas sem açúcar adicionado, como o café.
7) Câncer
O consumo de leite está relacionado ao aumento de risco de câncer de mama, endométrio e próstata. O aumento de IGF-1 em pessoas que consomem leite pode representar um mecanismo plausível entre a ingestão de lácteos e outros tipos de câncer.
8) Alergias e Intolerâncias
O leite de vaca causa alergia em cerca de 4% das crianças e está associado ao agravamento de Asma na infância. A intolerância à lactose tem alta prevalência na população em geral e é subdiagnosticada. O consumo de lactose por intolerantes, além dos sintomas gastrintestinais, gera deficiência de macro e micronutrientes e impacto negativo na flora intestinal.
9) Mortalidade geral
O consumo de leite resulta em aumento significativo de mortalidade geral quando comparado com uma fonte de proteína vegetal não processada. Em relação a outras fontes de proteína animal (ovos, carnes, aves e peixes), o leite tem menor mortalidade.

Outro lado

Até o momento não há consenso sobre o consumo do leite e seus derivados. O assunto também foi abordado na página do dr. Drauzio Varella, que defende o consumo de leite na fase adulta. O texto traz apontamentos feitos pela dra. Patrícia Blumer Zacarchenco, pesquisadora científica do TECNOLAT-ITAL (Centro de Tecnologia de Alimentos –Instituto de Tecnologia de Alimentos do Estado de São Paulo), que há mais de 18 anos estuda o alimento.
“Quando o filhote se torna adulto, o desmame feito pelas fêmeas das diversas espécies ocorre não porque o leite deixa de ser adequado para a cria, mas sim para que o filhote passe a ingerir outros alimentos. Também serve para poupar energia da fêmea para um novo processo de gestação”, defende a médica. A mesma lógica poderia então ser aplicada às pessoas, já que o leite não deixa de ser nutritivo quando nos tornamos adultos.
A publicação defende que o leite é um dos ingredientes mais versáteis da gastronomia, e eliminar seu consumo também significa excluir derivados como: manteiga, queijo, requeijão, creme de leite, leite condensado, iogurte etc. Tais alimentos estão presentes em inúmeras receitas, muitas enraizadas em nossa cultura, como pães, doce de leite, pão de queijo, brigadeiro e bolos.
A dra. Ana Hoff, endocrinologista do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês, explica que uma boa ingestão de cálcio desde cedo é importante para prevenção da perda óssea que pode resultar em osteoporose, mesmo que isso só vá ocorrer décadas depois. “No caso de um consumo pobre do mineral, o organismo sacrifica o esqueleto (depósito de 99% do cálcio no corpo humano) para que suas funções sejam mantidas. A retirada de cálcio do esqueleto para suprir sua falta no sangue resulta em perda óssea.”
Para ela, o grande desafio deveria ser incentivar a ingestão de cálcio no país sem condenar o leite. Uma vez que mesmo quem consome a bebida não garante a quantidade ideal de cálcio por dia. Apenas 20% das mulheres com 45 anos ingerem o necessário. Entre aquelas com menos de 45 anos, essa porcentagem não passa de 10%.
Segundo a dra. Ana Hoff, a intolerância à lactose é um problema que causa sintomas desagradáveis após a ingestão desses produtos, tais como distensão do abdômen, acúmulo de gases e fezes amolecidas. “Neste caso, a necessidade de cálcio deve ser suprida por outros alimentos ou, se necessário, com suplementos”, afirma.
Rejane Matar, médica responsável pelo Laboratório de Provas Funcionais do Aparelho digestivo do HC-FMUSP, afirma que só é considerado intolerante quem apresenta os sintomas. Se não há sinais, não há intolerância à lactose. “A pessoas inventaram essa história de que todo mundo precisa tirar o glúten e os produtos lácteos da dieta para emagrecer, enquanto na verdade eles só devem ser retirados em casos especiais e realmente confirmados”.
Segundo estudos epidemiológicos, as populações que nos seus primórdios dependiam da pecuária muito mais que da agricultura (e eram grandes consumidores de leite e laticínios em geral) apresentam menor prevalência de intolerância à lactose em relação àquelas que dependeram mais da agricultura para sobreviver.
“E mesmo sendo intolerante, é preciso ter cautela. Quando o paciente tem problemas de intolerância, ele não precisa necessariamente parar de consumir laticínios. É possível que ele seja intolerante apenas a uma determinada quantidade. Por isso, sempre recomendamos fazer um teste e diminuir a porção ingerida”, explica dra. Rejane.
A restrição ao consumo de leite também se estende a pessoas com determinadas doenças, como Doença de Crohn, enfermidades inflamatórias, úlcera, gastrite, entre outros problemas já existentes que possam ser agravados com o consumo da bebida. “O leite integral, por exemplo, pode agravar sintomas de refluxo em pessoas que já têm esse problema”, conclui a médica em entrevista à página do Dr. Drauzio Varela no portal UOL.

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